Nesses tempos da nova ignorância comandada pela mídia eletrônica, é comum ouvir das pessoas, jovens ou adultas, que não gostam de ler. Os especialistas em leitura costumam atribuir essa indisposição aos livros como efeito das poucas oportunidades de leitura prazerosa que o nosso sistema educacional oferece à grande massa, como também ao próprio estilo de vida moderno, cuja notória e histérica futilidade dos seus meios de comunicação parece agir de modo concorrente à leitura.
Dentro do meu melhor estilo de "herói das causas perdidas", vou fazer aqui uma pequena contribuição para a valorização da leitura, chamando a atenção dos meus parcos leitores para as relações entre música brasileira e literatura.

Começando pelo legendário Renato Russo.
Dizem que ele amava os livros, assim como a sua guitarra. Nas suas músicas, ele faz várias referências á literatura. "A Montanha Mágina", do disco "V", por exemplo, é o título do livro homônimo escrito por Thomas Mann em 1924. Já aquele famoso verso da música L'age d'or "o maior mistério é não haver mistério algum" é uma estrofe do também famoso poema "O guardador de rebanhos" e, indiretamente, ao "Primeiro Fausto", ambos de Fernando Pessoa.
Além dessas referências clássicas, Renato Russo também esbanjou cultura quando musicou a belíssima "Love Song", uma cantiga de amor do século XIII, atribuida a Nuno Fernandes Torneol. A igualmente bela "Monte Castelo" tem duas referências literárias: a primeira vem da bíblia (I Coríntios 13) e a outra é do "Soneto 11" de Luís de Camões. Se vc ouvir com atenção as músicas do Legião, vc ainda vai encontrar muitas "ressonâncias" literárias, que podem ser identificadas no estilo de algumas de suas letras (veja p. ex. "Metal contra as nuves" e "Vento no litoral"). Essas letras podem muito bem ser incluídas no rol da antologia da poesia brasileira. Isto é, se vc ouve Legiào Urbana, saiba que está consumindo boa literatura (tá bom! é um exagero essa última afirmaçào..., afinal o Renato Russo não era lá tão bom compositor assim...).
Vamos agora para a refinadíssima Adriana Calcanhoto.

Adriana Calcanhoto vestindo o parangolé de Hélio Oiticica (capa do CD "Marítimo").
É admirável como ela transita pela literatura e pela música popular. Ela tanto é capaz de cantar uma composição do Claudinho e Bochecha e do Roberto Carlos, músicos realmente populares, como canções sofisticadas como O outro, Canção por acaso, A fábrica do poema, Metade, Uns Versos e Esquadros, só para citar algumas. Só pelos títulos dessas canções já dá para perceber o quanto a literatura está presente em suas músicas: versos, palavras, poemas e livros compoem um universo particular no conjunto da obra de Calcanhoto. Na música Vambora, por exemplo, há referência a dois importantes livros da poesia brasileira moderna: o Cinza das Horas, de Manuel Bandeira e o Dentro da Noite Veloz, de Ferreira Gullar. A letra dessa cançào é belíssima. Gosto muito da idéia, sugerida pelas últimas estrofes, de que se pode encontrar o cheiro da pessoa amada dentro de um livro "na cinza das horas" ou "dentro da noite veloz".
Vamos agora para a refinadíssima Adriana Calcanhoto.

Adriana Calcanhoto vestindo o parangolé de Hélio Oiticica (capa do CD "Marítimo").
É admirável como ela transita pela literatura e pela música popular. Ela tanto é capaz de cantar uma composição do Claudinho e Bochecha e do Roberto Carlos, músicos realmente populares, como canções sofisticadas como O outro, Canção por acaso, A fábrica do poema, Metade, Uns Versos e Esquadros, só para citar algumas. Só pelos títulos dessas canções já dá para perceber o quanto a literatura está presente em suas músicas: versos, palavras, poemas e livros compoem um universo particular no conjunto da obra de Calcanhoto. Na música Vambora, por exemplo, há referência a dois importantes livros da poesia brasileira moderna: o Cinza das Horas, de Manuel Bandeira e o Dentro da Noite Veloz, de Ferreira Gullar. A letra dessa cançào é belíssima. Gosto muito da idéia, sugerida pelas últimas estrofes, de que se pode encontrar o cheiro da pessoa amada dentro de um livro "na cinza das horas" ou "dentro da noite veloz".
No quesito ousadia, Calcanhoto foi um pouco mais longe ao musicar o poema Jornal de Serviço de Carlos Drummond de Andrade, elaborando uma canção inusitada, com efeitos sonoros interessantes. Vc ainda nào ouviu? Nào leu? Puxa, que pena!
A música Jornal de Serviço me faz pensar em outra questão: a do consumo das músicas. É claro que essa é uma cançào que dificilmente vc ouvirá sendo tocada nas rádios e tvs. Talvez ela até ganhe um rótulo do tipo "música experimental" e algum professor (talvez eu mesmo) acabe por fazê-la toca em sala de aula. Fora do circuito acadêmico e artístico, vai ser mesmo difícil ouvir essa e outras maravilhosas cançoes dos nossos artistas. Afinal, o que a indústria musical quer nos vender - e é o que a maioria de nós quer consumir - é a música fácil, de letras fáceis e rítmo mecanicamente dançante.
Mas agora que tal vc ir ler as músicas e ouvir os livros?
Olá Fausto!
ResponderExcluirOlha, muitas coisas, não só a literatura e a música deixam a desejar para a massa no Brasil, mas também a falta de qualidade no nosso ensino de base, hoje, o "pseudo cidadão" no nosso país vive num lamassal de malandragem dos seus líderes e entre si mesmo, o brasileiro é "expert" na arte de competir "por espaço" e não "pelo espaço, nossa maneira de ser, tem muito a evoluir...que letargia é essa que não quer calar? Que país é esse que manda um astronauta a custo de papel verdinho dos EUA? Acredito que há falta de poesia em tudo que se diz respeito na formação do "ser" no Brasil...o homem foi pra Lua e continua lá, pensando em si próprio e em seus interesses. Será que estamos em Atlântida ou Lemúria? Pois dizem os livros(Editora Graal) baseados na visões de Platão que Atlântida foi uma civilização de seres civilizados e desprovidos de qualquer malandragem e Lemúria de pessoa gananciosas...é, aqui tá mais pra uma "Lamúria".
Mas aí se insere aquela luz do fundo da essência de nós de que "a esperança é a última que morre", pois a morte é a única certeza que temos.
Abraços.
Edu