Nas duas últimas semanas, fui questionado várias vezes, por diferentes alunos, sobre as minhas crenças religiosas. Não é primeira vez que isso acontece, pois, lecionando disciplinas científicas, fica mesmo evidente que não dou muita bola para as explicações religiosas sobre a vida, o destino e demais temas relacionados às religiões. Mas, estranhamente, quanto mais convicção tenho sobre o que sinto e penso em relação a Deus, alma, espírito, morte, vida e fé, mais difícil fica explicar isso a outras pessoas. Acho que isso se deve a uma crescente indisposição de minha parte em querer me envolver em um debate que eu sei ter poucas chances de ser proveitoso. Afinal, quem crê, cre e ponto final. Poucos são aqueles que demonstram flexibilidade e racionalidade necessárias para uma conversa desse tipo e aí o diálogo fica uma coisa de surdo mudo, em que um não compreende a lógica do outro. Eu até me esforço, mas, sinceramente, não consigo abdicar da formação científica que recebi - e da qual não abro mão. Por outro lado, os que creem usam de argumentos baseados na fé e na emoção, baseando-se em dogmas contra os quais minha pobre razão soa como heresia e sacrilégio. É por esse motivo que procuro fugir de conversas desse tipo: para não parecer um herético cujo destino é arder no Inferno.
Mas os alunos foram insistentes, nas últimas aulas. Queriam mesmo uma posição clara e definida de minha parte. Ateu? Cético? Agnóstico? Iconoclasta? Eclético? Enfim, uma definição por favor! é o que eles acabaram me pedindo. Uma aluna chegou mesmo a questionar como é que eu poderia estar lecionando num Seminário para formação de padres católicos, se eu não demonstrava fé alguma em Deus.
Realmente, me colocaram contra a parede.
Bom, compreendo a Vida (com "v" maiúsculo) como processo movido por forças naturais e humanas, onde o Acaso disputa com a Vontade o reinado de nossos Destinos. Podemos viver bem ou viver mal de acordo com as possibilidades dadas por essas forças. Qual o papel de Deus nisso? bom, isso eu não sei responder, pois ainda nào sei o que é "Deus". E, sinceramente, isso não tem sido problema para mim, pois como já disse, as explicações da ciência me são suficientes. Não me sinto pior nem melhor por isso. A princípio, não tenho nada contra nenhuma religião ou crença, desde, é claro, que as mesmas não se confundam com irraconalismo e autoristarismo. Fora isso, acho válida qualquer tentativa de tornar essa nossa Vida menos sem sentido. E se para isso a pessoa precisa de uma religião, que a tenha, portanto. Apenas não desmereça outras formas de explicar a nossa passagem por esse mundo, sejam outras religiões ou religião nenhuma.
Penso mesmo que uma única "religião" deveria ser obrigatória para todas as pessoas deste Planeta: o "cidadanismo", isto é, a crença de que devemos viver bem uns com os outros, respeitando as normas básicas da nossa sociedade, inclusive as leis de trânsito, o cuidado com o lixo que produzimos, o conteúdo das mensagens que colocamos nas mídias, a responsabilidade política, o respeito pela diversidade cultural e étnica etc.
Aliás, se o cidadanismo não se tornar uma "religião" universal, não sei como as demais religiòes possam sobreviver em harmonia.
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