quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

pode ficar com o que sobrou

Os posts que vão a seguir, linkados como Faixa de Gaza, trazem informações e opiniões sobre o recente ataque do Exército de Israel contra as cidades e as pessoas de Gaza, sob a justificativa de uma auto-intitulada "ação de auto-defesa", impondo mais dor e destruição a uma sociedade praticamente indefesa, há décadas confinada em seu cada vez mais diminuto território.

Desde os últimos dias do ano de 2009 e também da gestão de George Bush, as pessoas de bom senso deste mundo acompanharam com lágrimas nos olhos e aperto no coração as notícias sobre a decisão de Israel em atacar Gaza e fazê-la sofrer 22 dias de pesado bombardeamento por artefatos de alto poder de destruição.

O Governo de Israel se esforçou ao máximo para realizar uma boa propaganda de seu plano de bombardeamento e ataque, lançando a bonita chanceler e ex-agente secreto Tzipi Livini em frente às câmeras de TV para explicar ao mundo que a sua guerra é justa e legítima, mas os fatos falam por si mesmos - a destruição dos prédios e dos campos, os pedaços de homens mortos, as bombas fragmentárias lançadas pelos helicópteros - e qualquer justificativa para tudo isso não passa de sádico cinismo.

Durante o auge do sofrimento dos palestinos de Gaza, que acompanhei principalmente pelo site de notícias do UOL e pela leitura de alguns blogs, uma imagem ficou em minha mente como síntese da estupidez e da violência com que Israel trata os seus vizinhos palestinos, imagem que formei depois de ler a história contada com indignação por Saramago, que vou citar, sobre " um militar judeu partindo à martelada os ossos da mão de um jovem palestino capturado na primeira intifada por atirar pedras aos tanques israelitas ".

A história me chocou tanto quanto às inúmeras imagens que já vi (que todos nós já estamos cansados de ver) em fotografias na internet e reportagens na televisão sobre mortos em explosões por bombas.

Mas nessa história a arma usada é um martelo, não uma bomba. O objetivo do militar não é matar, mas sim provocar dor e assim registrar uma punição menos letal, atingindo apenas a mão e não algum outro órgão vital da vítima. Como o próprio Saramago escreveu sobre esse lamentável militar judeu, com uma ponta de cinismo: "menos mal que não o matou".

A história contada por Saramago é terrível porque revela uma guerra diferente das espetaculares explosões lançadas por aviões e helicópteros, das mortes instântaneas e precisas por armamento especial, das bombas inteligentes e da fuzilaria tecnológica dos soldados, que a mídia diariamente nos empurra pelos olhos e ouvidos como consequência inevitável do progresso, imperativo da economia e da defesa das nações. Essa história é terrível porque revela um governo - Israel - comandado por políticos ambiciosos que instigam e manipulam bandos de assassinos e torturadores para engrossar seu exército e assim realizar seus planos de domínio territorial e expansão econômica.

Acredito que o povo israelense, o bom povo de lá, também não deva concordar com as atitudes de seus atuais governantes. Mas também sei o quanto é difícil para um israelense externar críticas contra o governo de seu próprio país, pois Israel é um Estado totalitário que abusa, como é típico de governos assim, da força policial para coibir manifestações contrárias de seu próprio povo. Por isso, faço questão de notar que todas as minhas críticas aqui feitas são direcionadas ao Governo de Israel e não contra o seu povo, que deve ser formado por pessoas tão boas e tão ruins como são as pessoas do meu próprio povo.

Como um simples cidadão do interior do Brasil, nada mais pude fazer durante os pesados ataques por bombas contra Gaza do que me solidarizar com o sofrimento do povo palestino escrevendo estes posts que aqui vão.

Agora, quero me despedir da tarefa a que me propuz, deixando aqui registrado o meu luto pelos mortos, feridos e vítimas (in)diretas do ato de selvageria cometido pelo Governo de Israel e o meu desejo que o mundo nunca mais presencie e seja vítima de uma imbecilidade como essa cometida por grandes nações.


* * *



Blogs que falam com muita propriedade e sinceridade da vida em Gaza:

From Gaza, with Love. Blog da médica Mona El-Farra, moradora em Gaza. Para a versão traduzida para o português, clique aqui.

Raising Yousuf and Noor: diary of a Palestinian mother. Blog de Laila El-Haddad
jornalista moradora em Gaza. Para a versão traduzida, clique
aqui.

Moments of Gaza. Uncovering the untold - From Gaza to the world. Blog coletivo. Para a versão traduzida, clique aqui.




* * *


Notícias:

O UOL divulgou hoje a notícia da retirada das tropas israelenses de Gaza, após 22 dias de intenso bombardeamento de toda região. Também informou, no entanto, que o exército judeu continuará de prontidão para qualquer "eventualidade", significando a disposição do Governo de Israel em voltar a fazer novos bombardeamentos quando achar necessário.

Segundo
outra notícia do UOL, o Hamas está tentando retomar o controle de Gaza, ou o que sobrou dela e de seus habitantes depois de 22 dias sofrendo impiedoso bombardeamento de suas cidades, campos, estradas, pontes, fábricas, ruas e casas nesta que esperemos seja a última bestialidade cometida pelos governos das nações poderosas representadas pelo senhor George Bush.


O site do grupo Folha de São Paulo também informa que o clima em Gaza, além de desamparo, tristeza e atordoamento pelos 22 dois dias de explosões praticamente ininterruptas, está cheio de indignação, ódio e vingança e que os alguns sobreviventes e parentes das vítimas civis estão agora procurando fazer justiça com as próprias mãos, ferindo ou matando aquelas outras pessoas que são tidas como "colaboradoras de Israel". Isto é, muito sangue ainda vai jorrar, infelizmente, nesse terrível acerto de contas interno.

Não é mera coincidência a retirada das tropas israelenses acontecer um dia após a posse do novo presidente norte-americano. Como já foi dito aqui e também por muitas outras pessoas muito mais entendidas no conflito entre Israel e Palestina do que eu, isso confirma a tese de que a invasão em Gaza deve ser entendida não como um ato autônomo de Israel, mas sim como uma das últimas e desastrosas ações do governo Bush por esse pobre mundo.

* * *
<<------------>> Atualização, 23 de janeiro de 2008: <<------------>>




Clique para ler!!!!!!

1. Primeiros relatos sobre Gaza após 22 dias sob o bombardeamento de artefatos explosivos de alto poder de destruição sob responsabilidade do Governo e do Exército de Israel:




Ruínas, prantos e luto: na Gaza devastada.
Michel Bole-Richard

Gaza, um pesadelo que virou realidade.
Alberto Masegosa

Aos poucos, Gaza recupera a normalidade.
Saud Abu Ramadan

Missão de avaliação da ONU chega à Faixa de Gaza
(notícia da Rádio das Nações Unidas).

Israel destruiu a infraestrutura do futuro Estado palestino (ONU)

Guerra fortaleceu extremistas em Gaza--chefe de agência da ONU.
Stephanie Nebehay.

Quem venceu o conflito em Gaza?
Ulrike Putz / Em Beit Lahia.



2. Acusações por crime de guerra


Tribunal belga pede prisão de chanceler Tzipi Livni de Israel em Bruxelas

Chanceler Tzipi Livni de Israel ignora ameaça de prisão e viaja à Bélgica

Israel cometeu crimes de guerra em Gaza, diz relator da ONU

Investigador da ONU vê indícios de crimes de guerra em Gaza.
Por Jonathan Lynn

Palestino acusa Israel de matar duas filhas; assista


3. A política da guerra e a guerra da política em Israel


Direita de Israel tira vantagem da ofensiva em Gaza

Ministro da Justiça dirigirá defesa por "crimes de guerra"




4. Mais:

Faixa de Gaza no UOL Notícias.

Tizipi Livini.

Chancerle(res) de Israel.


5. A voz de Saramago

Israel e os seus derivados

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