domingo, 14 de maio de 2006

origem do sentimento de justiça

Andei a reler Nietzche neste final de semana, mais especificamente Humano, demasiado humano, obra que o autor escreveu logo no início do seu crescente e sofrido período de isolamento. Como sou um leitor apressado, que só faz leituras em diagonal, isto é, pulando palavras e frases, me fixei somente nos tópicos que julguei mais interessante. Um é sobre a "origem do sentimento de justiça", cuja idéia pode ser resumida assim: o sentimento de justiça no homem não surge da benevolência ou de qualquer outro pendor para a bondade, a equidade e a imparcialidade. Não. Para Nietzhche, só sentimos necessidade de praticar a justiça quando sentimos que nossas forças são inferiores a dos outros. Isto é, somos justos quando sabemos que não podemos ser superiores. É uma questão de economia de esforços e de autosobrevivência, nada mais. "Justiça remete naturalmente ao ponto de vista de uma autoconservação inteligente, portanto, ao egoísmo" - diz o filósofo (p. 99).
O que dá pra concluir disso? Eu diria que "não seja subserviente", "não inferiorize suas forças para que um outro nào se sinta superior a vc e assim abra mão de querer praticar a justiça". E quanto a vc, se aprendeu a lição, não use da sua força sobre aqueles que vc considera inferiores para justificar a si próprio que podes ser injusto, já que se sentes acima da própria lei.

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Outro tema que me fez pensar e que deixo aqui para os meus 4 ou 5 leitores fiéis para tb pensarem, é sobre o cristianismo. Nietzche valorizava muito a vida grega, nào apenas os filósofos antigos, mas também a própria mitologia e religiões da época da Grécia Clássica. Ele achava que os gregos foram extremamente nobres, valorosos e virtuosos (qualidades que Nietzche preza muito), pois se consideravam iguais aos deuses em que acreditavam. É como se os gregos acreditassem que se poderia encontrar um deus caminhando na rua ou participando de uma festa de casamento, do mesmo modo como se poderia encontrar um amigo pela praça. Deuses e homens tinham as mesmas virtudes e defeitos. Deuses tb erravam! E essa crença, segundo Nietzche, tornava a vida religiosa dos gregos antigos bastante próxima dos embates da vida cotidiana. O mesmo nào pensa o filósofo sobre o cristianismo. Diz Nietzche: "o cristianismo, por sua vez, esmagou e alquebrou completamente o homem, e o mergulhou como que em um profundo lamaçal" (p. 103). Isso porque, segundo o autor, o cristianismo fez duas coisas "ruins" para a humanidade: separou Deus dos homens (Deus mora no "céu" e é invisível) e plantou o sentimento de culpa em todos os cristãos (cultuamos Jesus crucificado na cruz, nào o Jesus vivo), fazendo todos nós nos sentirmos pecadores por toda a vida.
Hum. Dá o que pensar, não?

Serviço: para ler trechos de obras de Nietzche, clique aqui e, para conhecer a sua biografia, clique aqui.

2 comentários:

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