Aqui no título do post, preferi trocar o p de puta pelo p de periferia. Me pareceu mais educado...
Quem está agora me lendo, com certeza não se encaixa em nenhum desses pês. Nem mesmo no de preto (mas o Edu Benedito vai questionar isso...).
Daí que nós, brancos e classe média, não entendemos direito o que é ter que carregar os três pes estampados na própria carne.
Pessoas com três pes habitam os nossos pesadelos: elas aparecem armadas, escondidas em esquinas e becos, prontas para nos atacar, invadir nossas casas, destruir nosso comércio, sujar nossos tapetes. Temos medo delas e quando vemos pessoas assim presas, ainda pensamos: puxa! agora vamos ter que pagar pra sustentar esses vândalos!
Agora, depois do ocorrido nesses últimos dias, o pensamento passou a ser: "tem que matar! tem que matar!".
É. É isso mesmo. É a frase que a classe média mais tem repetido. E, como o Estado e a polícia podem ser tudo, menos burros, logo o recado foi entendido e assim se sentiram autorizados a deflagrar um movimento de extermínio de suspeitos, que, "por coincidência", está atingindo principalmente pessoas pretas, pobres e da periferia. Algumas tb são putas, mas, enfim, isso é só mais uma coincidência.
Vou deixar uns trechos do texto de Maria Rita Kell, publicado na Agência CArta Maior para a reflexão dos meus leitores.
Assim a polícia vem “tranqüilizando” a cidade, ao apresentar um número de cadáveres “suspeitos” superior ao número de seus companheiros mortos pelo terrorismo do tráfico. Suspeitos que não terão nem ao menos a sorte do brasileiro Jean Charles, cuja morte será cobrada da polícia inglesa porque dela se espera que não execute sumariamente os cidadãos que aborda, por mais suspeitos que possam parecer. Não é o caso dos meninos daqui; no Brasil ninguém, a não ser os familiares das vítimas, reprova a polícia pelas execuções sumárias de centenas de “suspeitos”. Mas até mesmo os familiares têm medo de denunciar o arbítrio, temendo retaliações.
Aqui, achamos melhor fingir que os suspeitos eram perigosos, e seus assassinatos são condição na nossa segurança. Deixemos o Marcola em paz; ele só está cuidando de seus negócios. Negócios que, se legalizados, deixariam o campo de forças muito mais claro e menos violento (morre muito mais gente inocente na guerra do tráfico do que morreriam de overdose, se as drogas fossem liberadas – disso estou certa). Mas são negócios que, se legalizados, dariam muito menos lucro. O crime é que compensa.
Então ficamos assim: o estado negocia seus interesses com os do Marcola, um homem poderoso, fino, que lê Dante Alighieri e tem muito dinheiro. Deixa em paz os superiores do Marcola que vivem soltos por aí, no Congresso talvez, ou abrigados em algumas secretarias de governo. Deles, pelo menos, a população sabe o que pode e o que não pode esperar. E já que é preciso dar alguma satisfação à sociedade assustada, deixemos a polícia à vontade para matar suspeitos na calada da noite. Os policiais se arriscam tanto, coitados. Ganham tão pouco para servir à sociedade, e podem tão pouco contra os criminosos de verdade. Eles precisam acreditar em alguma coisa; precisam de alguma compensação. Já que não temos justiça, por que não nos contentar com a vingança? Os meninos pardos e pobres da periferia estão aí pra isso mesmo. Para morrer na lista dos suspeitos anônimos. Para serem executados pela polícia ou pelos traficantes. Para se viciarem em crack e se alistar nas fileiras dos soldadinhos do tráfico. Para sustentar nossa ilusão de que os bandidos estão nas favelas e de que do lado de cá, tudo está sob controle.
**Agora, depois do ocorrido nesses últimos dias, o pensamento passou a ser: "tem que matar! tem que matar!".** - EI! Isso foi pra mim, Sr. Fausto?? rs!
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