terça-feira, 27 de outubro de 2009

algumas palavras sobre isso


As imagens que publico aqui são feitas sem maiores pretensões estéticas, a não ser o mero prazer pelo entretenimento com a comunicação visual possibilitada pelo computador.


A maioria das imagens destina-se a servir como "cabeçalho" deste blogue, cujo objetivo é ilustrar alguma mensagem - nem sempre muito clara, diga-se de passagem - que eu quero transmitir. Por essa razão, eu gosto de chamar essas imagens de títulos, pois elas têm essa função para mim: sintetizar um sentido específico de uma mensagem que de outra forma precisaria de muitas palavras digitadas para expressar.


Nem sempre sou feliz em minhas montagens visuais, pois alguns amigos reclamam que não entendem quase nada do que publico aqui e alguns outros até chegam achar este meu passatempo uma pura perda de tempo.


Como amigos são aqueles que sempre dizem o que a gente não espera ouvir de mais ninguém, achei melhor não dar muito ouvido para as reclamações e continuei fazendo minhas montagens. Afinal, bons amigos também são aqueles que fazem coisas que a gente não espera que mais ninguém faça.


As imagens estão aqui publicadas na forma de "galerias", assim intituladas:



Passagem da Lua Cheia
Primeiros e variados
Flor de carrapicho e Passagem das horas
Segundos e variados
Mundo comum
A fila anda
Entre vôos
Cotidiano furtivo
Movido à lenha
Esquisito



Eu até tentei agrupar minhas montagens em galerias especiais, mas desisti quando me dei conta do trabalho de programação em computador necessário para fazer isso.


Por isso e também para evitar que depois alguns amigos venham a repetir "pura perda de tempo", vou deixar essas imagens do jeito que já estão, infelizmente sem maiores cuidados de apresentação pela internet.


Assim, para o meu visitante apreciador de imagens, que está no meu blogue por acaso ou desejo próprio, e que esteja disposto a perder algum tempo comigo e minhas montagens criadas em computador, peço encarecidamente que clique nas imagens para vê-las em tamanho maior. Acredito que assim essas montagens ficam mais interessantes para os olhos e o entendimento, espero.

domingo, 10 de maio de 2009

letras do Clube da esquina 2

Clube da Esquina 2 - Disco Um

credo
Milton Nascimento e Fernando Brant

Caminhando pela noite de nossa cidade
Acendendo a esperança e apagando a escuridão
Vamos, caminhando pelas ruas de nossa cidade
Viver derramando a juventude pelos corações
Tenha fé no nosso povo que ele resiste
Tenha fé no nosso povo que ele insiste
E acordar novo, forte, alegre, cheio de paixão

Vamos, caminhando de mãos dadas com a alma nova
Viver semeando a liberdade em cada coração
Tenha fé no nosso povo que ele acorda
Tenha fé no nosso povo que ele assusta

Caminhando e vivendo com a alma aberta
Aquecidos pelo sol que vem depois do temporal
Vamos, companheiros pelas ruas de nossa cidade
Cantar semeando um sonho que vai ter de ser real
Caminhemos pela noite com a esperança
Caminhemos pela noite com a juventude



nascente

Clareia manhã
O sol vai esconder a clara estrela
Ardente, pérola do céu refletindo teus olhos
A luz do dia a contemplar teu corpo
Sedento, louco de prazer e desejos
Ardentes



ruas da cidade
milton nascimento / Lô Borges / Marcio Borges

Guiacurus Caetés Goitacazes
Tupinambás Aimorés
Todos no chão
Guajajaras Tamoios Tapuias
Todos Timbiras Tupis
Todos no chão
A parede das ruas
Não devolveu
Os abismos que se rolou
Horizonte perdido no meio da selva
Cresceu o arraial

Passa bonde passa boiada
Passa trator, avião
Ruas e reis
Guajajaras Tamoios Tapuias
Tupinambás Aimorés
Todos no chão
A cidade plantou no coração
Tantos nomes de quem morreu
Horizonte perdido no meio da selva
Cresceu o arraial



paixão e fé
milton nascimento / Tavinho Moura / Fernando Brant

Já bate o sino, bate na catedral
E o som penetra todos os portais
A igreja está chamando seus fiéis
Para rezar por seu Senhor
Para cantar a ressureição

E sai o povo pelas ruas a cobrir
De areia e flores as pedras do chão
Nas varandas vejo as moças e os lençóis
Enquanto passa a procissão
Louvando as coisas da fé

Velejar, velejei
No mar do Senhor
Lá eu vi a fé e a paixão
Lá eu vi a agonia da barca dos homens

Já bate o sino, bate no coração
E o povo põe de lado a sua dor
Pelas ruas capistranas de toda cor
Esquece a sua paixão
Para viver a do Senhor




casamiento de negros
Milton Nascimento / Violeta Parra

Se ha formado casamiento,
Todo cubierto de negro,
Negros novios y padriños,
Negros cuñados y suegros,
Y el cura que lo casó,
Era de lo mismo negro.

Cuando empiezaron la fiesta,
pusieron el mantel negro,
Negro llegaran al postre,
Se servieron higos secos,
Y se fueron a acostar,
Debajo de un cielo negro.

Y allá está las dos cabezas,
De la negra con el negro,
Y amanecieron con frio,
Tuvieron que prender fuego,
Carbón trajo la negrita,
Carbón que también és negro.

algo duele a la negra,
Vindo el médico del pueblo,
Recetó emplastro del barro,
Pero del barro más negro,
Que le dieron a la negra,
Zumo del maquí del cerro.

Ya se murió la negrita,
Que penaba pobre negro,
La por cientro de un cajón,
Cajón pintao de negro,
No prienderon ninguna vela,
Ay! Que velorio tan negro




olho-d'água
Milton Nascimento, Paulo Jobim e Ronaldo Bastos

E já passou, não quer passar
E já choveu, não quer chegar
E me lembrou qualquer lugar
E me deixou, não sei que lá

Não quer chegar e já passou
E quer ficar e nem ligou
E me deixou qualquer lugar
Desatinou, caiu no mar

Caiu no mar, Nena
Pipo, cadê você?
Dora, cadê você?
Pablo, Lilia, cadê você?

Beira Rio
Duas Barras
Morro Velho
Ponte Nova
Maravilha
Buracada
Semidouro
Olho-D'Água

Caiu no mar, Pedro
Chico, cadê você?
Lino, cadê você?
Zino, Zeca, cadê você?

Vista Alegre
Cruz das Almas
Maroleiro
Asa Branca
Bom Sossego
Santo Amaro
Poço Fundo
Montes Claros
Cachoeira
Mambucaba
Porto Novo
Água Fria
Andorinha
Guanabara
Sumidouro
Olho-D'Água




canoa, canoa
milton nascimento / Nelson Angelo / Fernando Brant

Canoa canoa desce
No meio do rio Araguaia desce
No meio da noite alta da floresta
Levando a solidão e a coragem
Dos homens que são
Ava avacanoê
Ava avacanoê
Avacanoeiro prefere as águas
Avacanoeiro prefere o rio
Avacanoeiro prefere os peixes
Avacanoeiro prefere remar
Ava prefere pescar
Ava prefere pescar
Dourado, arraia, grumatá
Piracará, pira-andirá

Jatuarana, taiabucu
Piracanjuba, peixe-mulher
Avacanoeiro quer viver
Avacanoeiro só quer pescar

Dourado, arraia e grumatá
Piracanjuba, peixe mulher




o que foi feito devera
milton nascimento / Clube da esquina

O que foi feito, amigo,
de tudo que a gente sonhou
O que foi feito da vida,
o que foi feito do amor
Quisera encontrar aquele verso menino
Que escrevi há tantos anos atrás
Falo assim com saudade,
falo assim por saber
Se muito vale o já feito,
mas vale o que será
Mas vale o que será
E o que foi feito é preciso
conhecer para melhor prosseguir
Falo assim sem tristeza,
falo por acreditar
Que é cobrando o que fomos
que nós iremos crescer
Nós iremos crescer,
outros outubros virão
Outras manhãs, plenas de sol e de luz
Alertem todos alarmas
que o homem que eu era voltou
A tribo toda reunida,
ração dividida ao sol
E nossa Vera Cruz,
quando o descanso era luta pelo pão
E aventura sem par
Quando o cansaço era rio
e rio qualquer dava pé
E a cabeça rolava num gira-girar de amor
E até mesmo a fé não era cega nem nada
Era só nuvem no céu e raiz
Hoje essa vida só cabe
na palma da minha paixão
Devera nunca se acabe,
abelha fazendo o seu mel
No pranto que criei,
nem vá dormir como pedra e esquecer
O que foi feito de nós



mistérios
milton nascimento / Joyce / Maurício Maestro

Um fogo queimou dentro de mim
Que não tem mais jeito de se apagar
Nem mesmo com toda água do mar
Preciso aprender os mistérios do fogo pra te incendiar
Um rio passou dentro de mim
Que eu não tive jeito de atravessar
Preciso um navio pra me levar
Preciso aprender os mistérios do rio pra te navegar
Vida breve, natureza
Quem mandou, coração?
Um vento bateu dentro de mim
Que eu não tive jeito de segurar
A vida passou pra me carregar
Preciso aprender os mistérios do mundo pra te ensinar






pão e água
milton nascimento / Lô Borges / Márcio Borges / Roger Mota

Prato feito mal servido todo dia
Todo povo a devorar
Como pasto verde calmamente devorado
Pelos animais
Cachoeiras sem as águas
É barranco torto morto tudo igual
Como correnteza sem barranco
É apenas água a rolar
Gira a roda do moinho
Mói o milho, mói o trigo, faz o pão
Pão e água mal servidos para devorar

Corre a bola, rola o circo
Alegria tudo, tudo é carnaval
No silêncio dessas matas muita coisa viva
Tem pra se matar
Picadeiro sem palhaço
Todos os aplausos são para o leão
E essa platéia educada
Calmamente a ver e esperar
Girar a roda da fortuna
Mói a vida, mói o sonho, mói o pão
Pão e circo mal servidos para devorar




e daí?
milton nascimento / Milton Nascimento / Ruy Guerra

Tenho nos olhos quimeras
Com brilho de trinta velas
Do sexo pulam sementes
Explodindo locomotivas
Tenho os intestinos roucos
Num rosário de lombrigas
Os meus músculos são poucos
Pra essa rede de intrigas
Meus gritos afro-latinos
Implodem, rasgam, esganam
E nos meus dedos dormidos
A lua das unhas ganem
E daí?

Meu sangue de mangue sujo
Sobe a custo, a contragosto
E tudo aquilo que fujo
Tirou prêmio, aval e posto
Entre hinos e chicanas
Entre dentes, entre dedos
No meio destas bananas
Os meus ódios e os meus medos
E daí?

Iguarias na baixela
Vinhos finos nesse odre
E nessa dor que me pela
Só meu ódio não é podre
Tenho séculos de espera
Nas contas da minha costela
Tenho nos olhos quimeras
Com brilho de trinta velas
E daí?




(Letras capturadas do acervo de canções do Portal Terra.)

sábado, 9 de maio de 2009

Momento musical...

As Pastorinhas

Composição: Noel Rosa / João de Barro (Braguinha)

A estrela d'alva
No céu desponta
E a lua anda tonta
Com tamanho esplendor
E as pastorinhas
Pra consolo da lua
Vão cantando na rua
Lindos versos de amor

Linda pastora
Morena da cor de Madalena
Tu não tens pena
De mim que vivo tonto com o teu olhar
Linda criança
Tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre e sempre te amar





Canto de Ossanha
Composição: Vinicius de Moraes / Baden Powell

- "O canto da mais difícil
E mais misteriosa das deusas
Do candomblé baiano
Aquela que sabe tudo
Sobre as ervas
Sobre a alquimia do amor"

Deaaá! Deeerê! Deaaá!

O homem que diz "dou"
Não dá!
Porque quem dá mesmo
Não diz!
O homem que diz "vou"
Não vai!
Porque quando foi
Já não quis!
O homem que diz "sou"
Não é!
Porque quem é mesmo "é"
Não sou!
O homem que diz "tou"
Não tá
Porque ninguém tá
Quando quer
Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha
Traidor!
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor...

Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!...

Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passou
Não!
Eu só vou se for prá ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor...

Amigo sinhô
Saravá
Xangô me mandou lhe dizer
Se é canto de Ossanha
Não vá!
Que muito vai se arrepender
Pergunte pr'o seu Orixá
O amor só é bom se doer
Pergunte pr'o seu Orixá
O amor só é bom se doer...

Vai! Vai! Vai! Vai!
Amar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Sofrer!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Chorar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Dizer!...

Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passou
Não!
Eu só vou se for prá ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor...

Vai! Vai! Vai! Vai!
Amar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Sofrer!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Chorar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Dizer!...(2x)

quinta-feira, 30 de abril de 2009

escritos do alto mar


As crônicas de Gilberto Vasconcellos na "Ilustrada" fizeram minha cabeça no começo dos anos 1980. Elas vinham publicadas no jornal de sexta-feira, que eu avidamente devorava com os olhos e a mente bem abertos. Dias atrás, (re)encontrei essa crônica recortada do jornal entre os meus albuns de lembranças e por uns instantes voltei àqueles anos de descobertas.
Para ver mais textos recortados de jornais, clique aqui.


(crédito: Vasconcellos, Gilberto. Folha de São Paulo. Caderno Ilustrada, 20 de fevereiro de 1981)

terça-feira, 24 de março de 2009

contabilidade que todo mundo entende


quando o comerciou fechou aos domingos

Nota publicada na primeira página do jornal Tribuna Popular de Itapetininga em janeiro de 1902.

Hoje, infelizmente, pobres trabalhadores de Itapetininga e mundo todo! Para proporcionar mais consumo e lucro, trabalham em turnos ininterruptos, de domingo a domingo.

terça-feira, 10 de março de 2009

no tempo em que existia onça

As empresas eram familiares...



Tudo era novidade


As pessoas se conheciam e frequentavam os mesmos mercadinhos da cidade

O farmacêutico era o Seu Sampaio


O comerciante João Rolim era barateiro, mas só queria vender à dinheiro!


Muitas coisas acontecem. Os sócios Cerqueira e Soares dizem que perderam uma promissória em favor do capitão José Marques, uma pessoa promete gratificar quem achar seu cachorrinho e uma mulher se oferece para lavar e passar a preços módicos e manda os interessados tratarem do assunto com o Firmino (seu marido? seu irmão? seu pai?)



O nome da empresa era o nome do dono.


Os anunciantes não escondiam seus preços na publicidade que faziam de seus negócios (ao contrário do que se costuma fazer hoje).



As pessoas eram educadas ou se esforçavam para isso e falavam com clareza de seus negócios...


Dona Nha Santa hospedava famílias numa casa grande da Rua Campos Sales.



Ás vezes tinha circo, as vezes tinha corridas.





Algumas bestas se perdiam e seus donos saiam a procurá-las.




E quando o couro do arreio arrebentava, era só ir na casa do gaúcho Franscisco Carneiro que ele dava um jeito.




domingo, 8 de março de 2009

recortes do cotidiano

Durante alguns meses do ano 2000, consultei vários exemplares dos jornais Tribuna de Itapetininga e O Diário, publicados entre os anos de 1896 a 1915.
Meu objetivo era acompanhar as publicações feitas por esses dois jornais relativas ao mundo escolar de Itapetininga, trabalho que realizei como parte dos meus estudos de doutorado em História da Educação.
O motivo da escolha dos jornais era simples: Itapetininga havia sido uma das primeiras e poucas cidades do interior do Estado de São Paulo a receber uma Escola Complementar (equivalente, hoje, ao ensino fundamental de 5ª a 9ª séries), um verdadeiro "luxo" naqueles anos em que ter em funcionamento uma simples escola primária já era, por si só, um privilégio.

Minha hipótese era a de que os jornais da época teriam sido testemunhas importantes sobre o processo de escolarização que estava então em andamento e que, diferentemente das "fontes oficiais" da história da educação paulista (basicamente relatórios, estudos e depoimentos de antigos professores e autoridades do ensino), os jornais poderiam fornecer uma visão "de fora" da escola pública que estava sendo criada e posta para uso das populações interioranas. Minha esperança era a de que, pelas notícias dos jornais, eu pudesse observar como teria se dado a apropriação da escola - com tudo o que ela carrega: hábitos, disciplinas, conhecimentos, relações sociais e políticas.

E, de fato, os jornais não me decepcionaram. Através das páginas d´O Diário e da Tribuna, pude acompanhar notícias sobre o mundo social dos professores, o movimento dos pensionatos para escolares, o comércio de material escolar, os pedantismos e os usos que o "status" oferecido aos que trabalhavam e estudavam na Escola Complementar possibilitava aos mais diversos agentes sociais e escolares como estratégia de promoção pessoal.

O resultado dessa pesquisa apresentei no Congresso de História da Educação promovido Sociedade Brasileira de História da Educação, ocorrido no Rio de Janeiro no final do ano de 2000. Um resumo deste trabalho consta no livro de atas do congresso.
Acredito (espero!!) que os jornais que consultei continuem guardados no Centro Histórico e Cultural da Prefeitura de Itapetininga. Embora eles, já atrás, não estivessem em perfeito estado de conservação, os exemplares que consultei são uma importante fonte de pesquisa sobre a história local e o processo de escolarização dos primeiros governos republicanos brasileiros e devem mesmo ser bem preservados. Espero, por isso, que todo o rico material impresso do nosso Centro Cultura continue "vivo", pois faz tempo que não tenho tido contato com o pessoal do Centro Cultural, nem sei como eles estão fazendo para preservar esse importante patrimônio cultural de Itapetininga.
Mas vamos falar um pouco do jornal A Tribuna Popular. Outro dia falarei do jornal O Diário.

A Tribuna Popular e a Tipografia Galvão


O jornal Tribuna Popular foi uma criação de Antonio Galvão, que conseguiu fazer circular o seu primeiro número em 1886. Antonio Galvão possuia alguma experiência na área, pois havia trabalhado como auxiliar do jornal O Município, considerado o primeiro de Itapetininga e um dos pioneiros em todo o Estado de São Paulo.
Até 1905, a Tribuna Popular foi o principal veículo de comunicação em "larga escala" dos habitantes daquela Itapetininga antiga, podendo ser tomado hoje como o principal registro da vida e dos costumes daquela época.
A existência do jornal A Tribuna Popular não pode se entendida desligada da tipografia montada por seu fundador com o objetivo não só de confeccionar os jornais, mas também para produzir impressos variados para uso em escritórios e escolas do município.
Essa condição deve ser lembrada para se ressaltar que o que movia o jornal não eram as motivações ideológicas, particularmente fervorosas nos primeiros anos republicanos do Brasil, mas sim, mais propriamente, o interesse comercial.
No caso específico da cobertura que o jornal faz dos acontecimentos relacionados à nova vida escolar de Itapetininga, percebe-se que o apoio jornalística em prol da educação popular coincide com os interesse comercial da empresa, afinal, os jornais são feitos para leitores e formar leitores é uma das tarefas primeiras da escola. Além disso, o universo escolar é particularmente estimulante do consumo de materiais tipográficos (cadernos, blocos, livros) e, portanto, uma área a mais a ser explorada, neste caso não propriamente pelo jornal, mas sim pela Tipografia que pertence ao seu dono.
Layout, montagem e impressão: algumas características
Pelos jornais disponíveis, sabemos que em 1896 a Tribuna Popular pertencia a Antonio Galvão e consistia num tablóide de folha única, dobrado ao meio, formando portanto 4 páginas.
A primeira página era dedicada aos assuntos mais relevantes da política e da vida social da época. A segunda página igualmente apresentava notícias política, artigos, pequenos comunicados, comentários variados e alguma propaganda. Já as páginas 3 e 4 eram as destinadas quase que exclusivamente aos anúncios do comércio local, editais da prefeitura, comunicados de interesse público, etc. Mas essas características não eram rígidas, havendo distribuição variada de matérias pelos espaços do jornal.
Devido às próprias limitações da impressão tipográfica, feita em tipos de chumbo, não é incomum encontrar-se, nos exemplares consultados, frases em que faltam artigos e preposições, supressões provavelmente ocorridas de propóstico, com a finalidade de fazer caber o texto dentro do espaço a ele destinado.
Quanto às ilustrações, que, para serem impressas, tinham que ser esculpidas em relevo no chumbo quente, elas foram utilizadas muito pouco nesse período, se limitando a alguns carimbos, conforme se pode ver nas reproduções aqui contidas.

As três imagens acima são ilustrações feitas a partir de desenhos feitos em chumbo. Devido a dificuldade em fazer novas ilustrações, as mesmas imagens eram usadas com frequência em diferentes matérias do jornal.
A Tribuna só foi ganhar um melhor aspecto visual a partir de 1901, quando o jornal passa a ser publicado em folha maior, atestando uma riqueza maior na qualidade de impressão e mesmo de conteúdo.
A partir desse ano, a Tribuna também inicia uma sucessão de novos proprietários e novos redatores (geralmente o proprietário e o redator são a mesma pessoa), o que nos leva a pensar que o jornal, enquanto empreendimento, parece não ter sido nem um bom negócio para manter seus proprietários fiéis por muito tempo, mas também nem tão um mal negócio que deixasse de atrair a atenção de outras pessoas mais motivadas.

* * *

A seguir vai uma relação de jornais, folhetos e revistas recebidas pelo escritório da Tribuna Popular durante os 1896, 1897, 1901 e 1902. Os nomes são bastante sugestivos e compoem um retrato da cultura da época. Valem uma leitura.
Recebidos em 1896-97
O Trovão (Tatuí)

Revista Farmacêutica

Jornal do Gentio (“órgão propagandístico médico-botânico da flora aborígene")

Arquivo Clínico, do Dr. David O. Honi (Poços de Caldas).

Eco Português, órgão da colônia portuguesa de S. Paulo.

Correio Paulistano.
O Botucabense.
Tribuna do Povo
Sul de São Paulo (Faxina)
A Redenção (jornal abolicionista)
O Imparcial (São Paulo)
A Nação, órgão do partido chefiado pelo General Clycério.
O Correio Acadêmico
O Democrata (Dois Córregos)
O Vitória (São Paulo)
Revisão da Constituição Federal de 24/02. Panfleto de Arthur Breves.

O Prelúdio, órgão do Grêmio Literário Juvenil de Itapetininga).

O Jundialense, órgão do Partido Republicano da cidade de Jundiaí.

Capital Paulista.

A Violeta (revista de letras)

Tribuna de Franca.

Comarca de Iguape

O Tipógrafo, jornalzinho humorístico publicado em Jaboticabal

O Rutineiro, do mesmo gênero que o precedente, publicado em Tatuí.
Recebidos em 1901:


A Luz Divina (São Paulo)

Primavera (Prata, MG)

O Brasil Elegante, jornal de moda das famílias brasileiras.

O Janota, folha literária humorística e noticiosa publicada em Amparo.

O Barbarense, órgão republicano publicado na vila de Santa Bárbara.

Direito e Escrituração Mercantil, livro de José Augusto do Amaral Sobanho, de Sorocaba.

Dez Contos (livrinho do insígne professor Arthur Goulart.

Santa Cruz, pequena revista de religião, letras, atos e pedagogia. São Paulo.

A Rex, jornal de literatura amena, com seção italiana dedicada ao belo sexo sorocabano.

A Platéia.

A Folha, periódico de Porto Ferreira.

Cidade de Limeira

Correio de Botucatu.

Correio de Itabira, órgão do governo municipal.

Gazeta de Santa Rita, periódico imparcial e literário do sr. Tlamínio Ernesto de Vasconcellos.

Comércio de Amparo.

O Grito da Pátria, folha mais republicana e de mais propaganda no Brasil, propriedade de uma empresa anônima.


* * *

Abaixo, algumas notícias curiosas publicadas pelo jornal O Diário.
Clique nas imagens para ver em tamanho ampliado.
A atávica incompetência dos fiscais municipais

O caso do travesti anônimo
O samba das criadas

sábado, 21 de fevereiro de 2009

não vá se perder por aí

Veja como vem
Veja bem!
Veja como vem...
Vai, vai, vem
Veja bem:
como vai, vem
Veja como vai
Veja bem
Veja bem como vem

Vai vem se ela vai também
Cuidado meu amigo
Não vá se estrepar
Não queira dar um passo mais largo
Que as pernas podem dar
Não se iluda com um beijo
Uma frase ou um olhar
Não vá se perder por aí...

Veja como vem
Veja bem
Veja como vem
Vai, vai, vem
Veja bem
Como vai, vem
Veja como vai
Veja bem
Veja bem como vem

Vai vem se ela vai também

Você é bem grandinho
Já pode se cuidar e
Ir seguindo o seu caminho
Sempre errando até um dia acertar
Mas não tenha muita pressa
Vá tentando devagar
Só não vá se perder por aí...


Nâo Vá Se Perder Por Aí. Os Mutantes. Composição: Arnaldo Dias Baptista - Ritta Lee - Arnolpho Lima Filho(Liminha)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Cananéia

Quinta-feira passada, 5 de fevereiro de 2009, descemos a Serra da Anta, entre Tapiraí e Juquiá, rumo à Cananéia e à alguns dias de lazer.

Fomos em dois carros: Nazaré e a filha Inêz, vindas de Piracicaba, e eu e minhas gêmeas, Elisa e Eloá, vindos de Itapetininga.

Marcamos o encontro às 10 hs da manhã no trevo da estrada de Sorocaba / Piedade. E, como tudo que é bem combinado acaba dando certo, nos encontramos lá sem nenhum problema e de lá partirmos para o longo - cerca de 200 km - e sinuoso caminho para se chegar em Cananéia.

O trajeto sinuoso inclui a travessia da Serra da Anta, uma grande e densa cadeia de morros e montanhas coberta com o que da Mata Atlântica ainda sobrevive à fúria capitalista dos paulistas.

A Serra - que eu chamo "da Anta" devido a existência de uma bica de água potável em forma de cabeça de anta, localizada na beira da estrada e no meio da Serra, onde os motoristas costumam parar para beber da sua água, fazer xixi ou simplesmente para esticar as pernas e os braços - está situada entre os municípios de Tapiraí e Juquiá, este último sendo passagem obrigatória para quem vai para a rodovia federal BR 116.

Dirigir na Serra da Anta não é coisa das mais fáceis, pois a estrada, além de possuir centenas de curvas fechadas, que não permitem ver com antecedência os veículos que vêm em sentido contrário, também não possui acostamento e com muita facilidade, em dias de chuva, pode sofrer quedas de barreiras e árvores pelo meio do caminho. Toda atenção é pouca por lá (uma regra básica infelizmente nem sempre respeitada).

Depois dos quase 50 km de serra, o próximo passo é alcançar a BR 116, no sentido para Curitiba, e depois de alguns kilómetros pegar a estrada para Pariquera-Açu e daí então, novamente em meio aos morros e montanhas de mata atlântica, seguir cerca de mais 50 km rumo à Cananéia.

E, por fim, depois disso tudo, chegamos lá, no extremo sul do litoral do Estado de São Paulo.

Depois de passarmos pelo portal de entrada (e de saída também, é claro) de Cananéia, telefonamos para a senhora Fátima, com quem havíamos anteriormente combinado o aluguel de uma casa para 3 pernoites. Eu a descobri através de uma pesquisa no internet. Ela nos esperava em frente à Agência do Correio de Cananéia e foi muito amável conosco, nos levando até a casa contratada e nos ajudando em nosso novo ambiente.

E daí tudo aconteceu da melhor maneira. Passamos três dias muito tranquilos e divertidos, enchendo nossos olhos com as peculiaridades da cidade, a beleza do mar e a simpatia dos moradores, sempre gentis com os turistas.

O único "senão" nessa história é quanto ao estado lamentável em que encontramos a cidade de Cananéia, aparentemente abandonada pelos funcionários da Prefeitura, com mato e lixo se amontoando nas ruas e calçadas. Segundo nos explicaram, o prefeito anterior, que está sumido, deixou a Prefeitura completamente quebrada, material e financeiramente, deixando os funcionários municipais sem salários já há 3 meses (é o que me disseram, não estou aumentando).

Aliás, falando nisso, um comentário triste que ouvi de um morador é que a eleição do ano passado foi disputada voto a voto por lá, e só por pouco o ex-prefeito, embora a evidente e escandalosa má gestão, não permaneceu no cargo. Esse fato me fez pensar como nós somos ainda um povo ruim, em que uma grande parte de nós (nós!!) se deixa seduzir com facilidade pelo encanto dos maus políticos.

Também me disseram que o novo prefeito, o médico de nome Adriano César Dias, está muito disposto a botar a cidade em ordem, mas isso vai demorar um bom tempo, dado os estragos dexiados pelo seu antecessor. Todas as pessoas com quem conversei demonstraram respeito e muita esperança pelo novo prefeito. Torço para que ele consiga satisfazer a todos, o mais rápido possível.

Mas, enfim... vamos às fotos:



Um pedaço da mata atlântica, próximo à Juquiá.

Potal da cidade de Cananéia. Colocaram uma caravela portuguesa no ar.

Tabuleta do portal da cidade de Cananéia, onde se lê: "Cananéia, cidade ilustre do Brasil".

A presença portuguesa nos azulejos azuis da porta e das janelas da casa


O artesão Amir Oliveira. Carismático, comunicativo, alegre, Amir também é contador de "causos caiçaras" e "histórias de pescador". Na foto, ele aparece em frente à sua loja na Rua do Artesão. Pode-se ver ali, pela porta da loja, as prateleiras com seus trabalhos. Destaque para as rabecas, que alguns chamam de "viola caipira", feitas por ele com madeira local. Infelizmente, não fotografei suas esculturas de santos em madeira maciça, que são belíssimas.

Aspecto do beco assentado em pedras que vai dar no beira-mar.

Um casario no beira-mar.

Aspecto do beira-mar, visto a partir da balsa que leva ao extremo sul da Ilha Comprida. Se vc clicar na foto vai vê-la ampliada e poder perceber o porto das balsas.

O beira-mar mais de perto. Os três primeiros prédios que aparecem a partir da esquerda da foto são alguns dos bares, lanchonetes e restaurantes mais badalados. Aliás, é na rua em frente a esses prédios, onde existe uma praça e a velha igreja, onde ocorre os agitos noturnos de Cananéia.

Uma balsa estacionada.

O porto de balsas de Ilha Comprida. Para quem não sabe, o centro urbano de Cananéia está situado numa ilha, onde não há praias. Assim, os "cananeeianos" que querem tomar banho de mar e se "empanar" com areia de praia, têm que atravessar a balsa (7,50 por automóvel) e andar mais 3 km até a maravilhosa praia de Ilha Comprida, que é uma vizinha bastante próxima de Cananéia. Além dessa praia, os cananeeianos também têm outras opções, como as prainhas da Ilha do Cardoso e do Ariri. Mas é mesmo lá no pontal da Ilha Comprida que a maioria do povo vai.

Aqui um aspecto dos quiosques da Barraca da Néia, um bar bastante simples e agradável em frente ao mar do pontal da Ilha Comprida. Nós passamos o dia num desses quiosques, bebendo cerveja, brincando, comendo peixes, caminhando, nadando, dormindo, rindo, tomando sol .... foi muito bom esse dia. Aliás, foi tudo bom...

Homenagem à "Graúna", do Henfil

No final da década de 1970, eu era apenas um adolescente curioso quando, por acaso, frequentando a banca de jornais da rodoviária de Itapeti...