quarta-feira, 5 de novembro de 2008


Na foto acima, quatro livros fundamentais sobre o município e a sociedade de Itapetininga.

Em sentido horário: o primeiro é - eu creio* - o Album Comercial de 1935, muito apreciado e comentado pelos memorialistas de Itapetininga. Pode-se ver pela foto que o exemplar que eu tenho é cópia do original.

O segundo é Itapetininga e sua história, um livro de crônicas sobre o povoamento e costumes de Itapetininga escrito por Antonio Galvão Júnior, filho que foi do então conhecidíssimo Antonio Galvão, o pai, tido como o fundador da imprensa na cidade e um dos pioneiros em toda a região sul do Estado de São Paulo. O livro é de 1956, publicado pelo próprio autor. Pela foto vc pode ver que eu tenho um original, inclusive numerado como exemplar 658.

Os outros dois livros (os dois debaixo) são de
Oracy Nogueira, professor e sociólogo nascido em Cunha, Estado de São Paulo, e que se tornou um pioneiro no chamado "estudo de comunidades", tal como isso era entendido nas décadas passadas (foi uma "moda sociológica").

Esses livros se chamam: Preconceito de Marca: as relações raciais em Itapetininga e Família e Comunidade: um estudo sociológico de Itapetininga.

Pará nós, itapetininganos ou moradores nesta cidade, essas obras tem um valor muito especial. Pois ambas são fruto do trabalho de pesquisa que o autor realizou, entre 1951 a 1953, em Itapetininga, investigando em profundidade a nossa sociedade, nosso processo de povoamento, formação econômica, costumes, instituições, geografia regional e também a topografia local.

Oracy Nogueira foi uma espécie de seguidor do sociólogo
Donald Pierson, que conheceu pessoalmente. Com a realização de sua pesquisa sobre Itapetininga, ele pretendia praticar, aqui no Brasil, o mesmo método de análise social preconizado e praticado por Pierson.

Nogueira escolheu Itapetininga como seu campo de experimento, devido, segundo ele mesmo diz,

"as seguintes vantagens: 1ª a abundância de fontes históricas já localizadas; 2º constituir uma variante em relação a Guaratinguetá** - cidade do Vale do Paraíba do Sul por onde já passara o ciclo do café - no sentido de estar fora ou à margem da faixa ecológica dos cafés; e 3ª estar a cinco horas*** da Capital do Estado, pela ferrovia (Sorocabana), o que facilitaria o autor e a seus eventuais auxiliares - assistentes e alunos da Escola de Sociologia e Política de São Paulo - frequentá-la". (Nogueira, 1956, p. 10)

Pela citação acima pode-se concluir que Nogueira, para decidir-se por Itapetininga, estava tão preocupado com as razões teóricas-metodológicas de seu estudo acadêmico, como também com a comodidade dos deslocamentos de si próprio e de seus alunos para a cidade escolhida.

Mas isso é só um detalhe e não vem ao caso.

Nogueira só publicou o resultado de seus estudos sociológicos sobre Itapetininga em 1962, através do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, pertencente ao INEP, numa coleção chamada, muito apropriadamente, "O Brasil Provinciano" e que acabou ganhando o título, já citado, de Família e Comunidade. O livro saiu com 541 páginas de texto e ilustrações, mais um adendo de 16 outras páginas com reprodução de fotografias de Itapetininga. Um tijolo, como se diz.

Já o livro Preconceito de Marca, publicado em 1998, depois da morte do autor, é um fruto de um trabalho de resgate da professora
Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, que pegou o antigo "relatório de Itapetininga", tal como Nogueira chamava seu texto de registros e anotações sobre sua pesquisa de campo, e o reeditou sob forma de publicação em livro.

Então, com a lembrança desses quatros livros, fica aqui a minha homenagem ao dia de aniversário dos 238 anos de fundação de Itapetininga.



* A cópia que eu tenho está sem a capa de identificação.

** Antes de se decidir por Itapetininga, Nogueira também considerou a possibilidade de realizar seu "experimento de pesquisa sociológica" em Guaratinguetá.

*** Hoje esse trajeto é feito em 2 horas de carro ou 2h30 de ônibus, se o trânsito ajudar.

P.S. Embora tenham alguns leitores deste blogue comentado que eu pertenço a "família tradicional" de Itapetininga, quero dizer que nunca encontrei, nas minhas folheadas nos quatro livros acima, qualquer referência à pessoas da minha família. O que não é de se admirar, pois sou filho de pai e avós imigrantes.

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