sexta-feira, 4 de maio de 2007

na janela do apartamento

Sei que você agora dorme em outra cidade.
As crianças estão longe, na casa dos avós.
Você sonha com os ruídos do condomínio, depois de ter ficado horas fumando e ouvindo o vento frio de julho.
Você está só.
Eu ainda nem a conheço e sou apenas um pensamento que repousa sobre os campos e as estradas, dentro de um ônibus.
Você nem sabe, mas eu venho cansado e cheio de sonhos, carregando livros e alguns cigarros.
Você também ainda não me conhece.
Você acorda no seu apartamento e observa que o frio não foi embora.
Você arruma sua bolsa, pensa no dinheiro, nas crianças e no banco em greve.
Eu já estou em outra cidade, com preguiça e sem vontade de acordar.
O dia vem como um desafio, mas sabemos que será só tédio.
E depois desse dia virá outro e mais outro, como uma roda impossível de não girar.
Eu percorro os corredores e salas das escolas.
Falo, explico, ouço, pergunto, leio, respondo.
Sou um professor e penso que nunca mais amarei ninguém.
Você trabalha num banco, contabiliza dinheiro, espera que tudo melhore mas não crê em nenhuma justiça.
Nem eu.

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