quinta-feira, 22 de março de 2007

emoção ou razão?


Uma vertente atual no debate sobre o julgamento moral - isto é, sobre a nossa capacidade em decidir o que é certo ou errado - é a discussáo sobre até que ponto são as emoções ou a razão que determinam nossas decisóes morais.

Embora eu náo creia que a distinção entre emocional / racional seja pertinente, pois creio que nossa personalidade integra esses dois aspectos, a questáo tem lá o seu valor.

Pois, ao se defender, como fazem os kantianos, ser a razáo o que guia a nossa conduta moral, a primeira conclusáo que se tira disso é que bastaria ("bastaria" entre aspas) a educação da razáo para formarmos cidadáos moralmente ajustados. Essa crença tem enorme influência na sociedade capitalista, cartesiana e tecnicista, que insiste em desenvolver nas pessoas a ideologia do valor do utilitarismo e da materialidade nas nossas ações. Trabalhe, pense, aja para obter resultados, produção, vantagens - é o que se subentende desse raciocínio. Nem preciso fazer a critica de tais valores, já que a própria conseqüência da conduta desastrosa das pessoas que agem guiadas por essa monstruosa razáo utilitária sáo por demais evidentes em nossa sociedade. Os problemas ecológicos que hoje enfrentamos podem ser atribuídos em boa parte a essa ideologia.

POis, ao se defender serem as emoções, mais do que a razáo, que governam nossas decisóes morais, acabamos caindo no outro extremo da questáo. Estamos quase que afirmando ser o indivíduo humano incapaz de utilizar-se da razáo para dominar seu egocentrismo.

Como eu disse no início, a questáo sobre o peso das emoções e da razáo sobre nossa moral náo está bem colocada quando se parte do princípio de que emoção e razáo sáo aspectos distintos da nossa personalidade.

Pense em si próprio: quando vc se vë diante de um dilema moral, do tipo "devo fazer isso?", o que é que faz vc decidir por esse ou aquele caminho?

Com certeza, caso lhe seja dada oportunidade de pensar a respeito, vc irá analisar os prós e contras para cada opção possível, mas é bem certo que irá se decidir por aquilo que julgar mais conveniente para si.

Veja bem: nesse processo, vc está se utilizando tanto de sua capacidade racional, como também de sua energia emocional.

Aí vc vai dizer: bom, sendo assim, entáo voltamos a questáo inicial, de qual fator será preponderante, a emoção ou a razão.

Mas aí eu digo que, sim, bem, mas náo é que emoção e razáo sejam distintas. O que vai determinar suas escolhas morais é a sua capacidade de dominar a si próprio (o seu egoísmo) e a sua maturidade social (sua empatia pelos outros).

Portanto, creio que educar a razáo é táo importante quanto educar nossas emoções.

Consequëncia 1: náo queira ser um técnico nessa vida! Eu náo aguento mais os técnicos, sua razáo utilitária e seus discursos de produtividade. Argh!

Consequëncia 2: também náo queira ser um fanfarráo e histriônico cidadáo, sempre disposto dar vazáo aos seus sentimentos, só para náo reprimir seus instintos!! Eu náo aguento mais essas pessoas que justificam tudo o que fazem apenas porque o que fazem lhes dá prazer e felicidade momentäneas!

Como dizem os budistas: o maior sofrimento é daqueles que náo querem sofrimento.

Bem, já falei até demais.

Vai abaixo o artigo que li hoje e que deu a deixa para esse meu comentário:

Cérebro tem área ligada à moral, aponta pesquisa

Lesão em zona que integra emoção à consciência prejudica julgamentos morais. Estudo reforça hipótese de que a evolução dotou os seres humanos de um tipo de órgão universal da ética, alojado no sistema nervoso. RAFAEL GARCIADA - REPORTAGEM LOCAL

Para agir de maneira ética, basta pensar de maneira racional ou é preciso se deixar envolver também pelas emoções?

De acordo com um estudo publicado ontem, julgamentos morais que as pessoas fazem quando estão diante de um dilema são mais emocionais do que se imaginava - sinal de que a moral não é baseada só na cultura e faz parte da natureza humana.

Para lidar com essa questão, um grupo liderado pelo psicólogo americano Marc Hauser, da Universidade Harvard, e pelo neurologista português António Damásio, da Universidade do Sul da Califórnia (ambas nos EUA), submeteu diversos voluntários a um questionário com situações imaginárias de deixar qualquer um arrepiado.

A maior parte delas envolvia decisões do tipo "escolha de Sofia", como sacrificar um filho para salvar um grupo de pessoas. Que mãe permitiria isso?

Para tentar inferir o peso da emoção em julgamentos morais, os cientistas incluíram entre os voluntários seis pessoas que haviam sofrido lesões numa área específica do cérebro, o córtex frontal ventromedial (veja o quadro à esquerda).

Entre as diversas funções dessa estrutura está a integração de sentimentos à consciência.

O resultado do experimento foi que os portadores da lesão tiveram tendência a pensar de maneira mais "utilitária". Eles escolhiam, da maneira mais fria, a decisão que prejudicasse um número menor de pessoas."

Em alguns casos -dilemas de grande conflito moral- a emoção parece ter papel significativo nos julgamentos", explicou a Folha Michael Koenigs, colaborador de Hauser e Damásio. "Como os pacientes com a lesão que estudamos presumivelmente carecem de emoções sociais/morais apropriadas, seus julgamentos são mais baseados em considerações utilitárias do que em fatores emocionais.

"Uma das questões usadas pelos cientistas envolvia uma situação imaginária na qual famílias vivendo num porão se escondiam de soldados que procuravam civis para matar. Um bebê começa a chorar, e a única maneira de calá-lo para evitar que todos sejam encontrados é tapar a respiração da criança por tempo suficiente para matá-la. O que fazer?

Para os pacientes portadores da lesão estudada, a decisão correta era matar a criança.

A resposta, de certa forma, era o que os pesquisadores esperavam.

Pacientes com essa lesão exibem menos empatia, compaixão, culpa, vergonha e arrependimento", disse Koenigs, que foi autor principal do artigo que descreve o experimento hoje no site da revista "Nature" (www.nature.com).

Ao contrário do que se podia imaginar, porém, essas características não tornaram essas pessoas "más" ou "cruéis". Para situações sem dilemas, as respostas dos pacientes lesionados foram bastante semelhantes às dos voluntários sadios.

Na opinião dos cientistas, o estudo é uma forte evidência de que pensar de maneira puramente utilitarista simplesmente vai contra a natureza humana. O córtex frontal ventromedial, afinal, seria um produto da evolução que ajudou a moldar a forma como as pessoas se relacionam."

Ele parece ser uma "parte emocional" inata do cérebro, e parece ser crítico para certos aspectos da moralidade", diz Koenigs. O pesquisador afirma, porém, que não é possível separar a influência do ambiente na ética.

"A reação da maquinaria emocional com respeito a questões morais é sem dúvida moldada por forças culturais."

(o artigo acima foi publicado originalmente em
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2203200701.htm)

Serviço:

Para conhecer o site do professor e pesquisador Marc Hauser, vá para esse endereço: http://www.wjh.harvard.edu/~mnkylab/

Para ler uma entrevista de Marc Hauser no American Scientist, clique aqui (em inglês).

Um comentário:

  1. protesto...
    AGORA COM O FIM DA DEMOCRACIA DE ITAPETININGA. VAMOS PROTESTAR
    DIA 31/3 NA PRAÇA DOS AMORES ÁS 14:00. PEDINDO OBRIGATORIEDADE DO ESTADO EM ASSUMIR SEU FILHO O HRI.
    E TAMBEM A UTI NEONATAL.

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